Instituto Thera

Sobre Impacto fêmoroacetabular

 

O quadril é uma articulação sinovial do tipo esferóide (bola e soquete) entre a cabeça do fêmur (osso da perna) e o acetábulo da pelve (osso do ilíaco). Ambos esféricos, porém congruentes, o que permite um perfeito encaixe e uma grande amplitude de movimento. Essa articulação do quadril está estruturada de tal forma a proporcionar grande estabilidade ao corpo durante o movimento (com reforço de cápsulas e ligamentos) ao mesmo tempo em que permite movimento em todos os eixos. Também tem papel importante na sustentação da nossa massa corporal e distribuição de forças.

 
 

Vários fatores podem contribuir para o desgaste da articulação do quadril (artrose) e, grande parte das artroses, merece investigação mais intensa uma vez que as causas não são esclarecidas: questões genéticas, bioquímicas, biomecânicas?

O QUE É?

O impacto fêmoroacetabular é caracterizado por um dismorfismo articular, ou seja, quando há uma deformidade da cabeça do fêmur e/ou do acetábulo comprometendo assim o contato entre esses ossos que formam a articulação e, possivelmente, causando lesão na transição condro-labial (exatamente onde há mudança significativa de densidades – entre osso/cartilagem e cartilagem/ labrum) alterando completamente a mecânica dos movimentos. Há, portanto, três formas desse impacto acontecer:

1) CAM: uma alteração no contorno da esfera da cabeça do fêmur que impacta diretamente no acetábulo durante a movimentação do quadril, especialmente na rotação interna. Pode estar associada a uma lesão do labrum (estrutura fibrocartilaginosa que é fixada à orla acetabular com o intuito de aumentar a congruência articular e, conseqüentemente, melhorar a distribuição de cargas). Mais comum no jovem atleta.

2) PINCER: uma alteração no acetábulo por irregularidade na superfície óssea (o que aumenta o atrito e, por conseguinte, o impacto), uma alteração na profundidade do acetábulo (alterando a anatomia e o “encaixe” adequado da articulação que gera desequilíbrio e sobrecarga) ou no posicionamento propriamente dito, levando a tensões de estruturas moles e uma maior exposição da cabeça do fêmur (tornando-o mais vulnerável). As alterações das estruturas ósseas e o posicionamento alterado das mesmas comprometem a biomecânica favorecendo lesões específicas tais como: o aprisionamento (pinçamento) do labrum, escoriações (ferimentos articulares, vasculares, neurais), degenerações (de cartilagem, osso e demais estruturas articulares), formações de cistos e calcificações (aumentando o impacto), entre outras.

Esse tipo de lesão é mais comum em jovens do sexo feminino.

3) MISTO: seria a combinação das duas anteriores. Corresponde a mais de 80% dos casos.

 
 

QUAIS SÃO OS SINAIS E SINTOMAS?

O início pode ser gradual ou associado a um episódio agudo de dor. A dor em geral é maior durante a atividade física (movimentos de flexão, adução e rotações do quadril, principalmente a rotação interna), gestos esportivos repetitivos ou determinados períodos em que o paciente fica em posições específicas. Pode apresentar amplitude de movimento articular diminuída e em alguns casos apresentar estalidos durante os movimentos. Devido à alteração biomecânica, se faz necessária uma avaliação para determinar compensações nas articulações da pube, sacro ilíacas e coluna lombar (pubalgia, sacroileíte, lombalgia ou lombociatalgia).

COMO SE FAZ O DIAGNÓSTICO?

Essa patologia exige uma avaliação conjunta e equilibrada com diagnóstico clínico e exames de imagens (RX, RNM, TC ou Artroressonância) para determinar local e gravidade das lesões. O exame físico é parte fundamental para o diagnóstico, pois nem todo paciente com deformidades mecânicas ou morfológicas necessariamente vai apresentar sintomas ou limitações, devendo ser investigado outras causas das dores de quadril.

QUAL É O TRATAMENTO

Cada caso precisa ser avaliado, tanto quanto ao nível de lesão quanto em relação ao objetivo do tratamento. O objetivo vai depender muito da idade do paciente, das limitações que ele apresenta (físicas ou psicológicas), da necessidade de restabelecer essas limitações, dos riscos envolvidos na realização (ou não) da cirurgia e das chances de insucesso ou recidiva. Isso tudo é avaliado pelos profissionais envolvidos nessa avaliação biomecânica: o médico e o fisioterapeuta. O paciente tendo ou não indicação cirúrgica, a fisioterapia é parte fundamental do tratamento.

De acordo com alguns estudos científicos, o tratamento inicial mais apropriado para esses pacientes consiste na modificação imediata das atividades físicas (atividades de vida diária e desportivas) visando evitar movimentos excessivos da articulação, além da intervenção medicamentosa com antiinflamatórios nos quadros sintomáticos.

A articulação do quadril é uma articulação complexa tanto do ponto de vista de sua composição quanto em relação a sua abrangente capacidade de amplitude de movimento e funcionalidade. Sendo assim, são muitos os componentes que podem estar envolvidos nessa impactação que acontece na articulação gerando dor e comprometimento da sua funcionalidade.

Na maioria dos casos, quando há ou uma lesão abrangente ou múltiplas lesões concomitantes, a cirurgia é o tratamento mais efetivo. Principalmente quando há lesões irreversíveis desses componentes articulares que terminam por não responder bem ao tratamento conservador além de levar ao agravamento das lesões já diagnosticadas. Por isso se faz tão necessário um acompanhamento com um Fisioterapeuta; apenas uma avaliação continuada por um profissional capacitado permite a prevenção do agravamento das lesões existentes bem como a otimização dos bons resultados possíveis para cada caso.

Quando a cirurgia é indicada, o tratamento fisioterapêutico pós-cirúrgico é primordial para promover analgesia, ajudar no processo de cicatrização prevenindo fibroses e aderências, realização de exercícios para reabilitação articular em todas as fases: analgesia, estabilização, mobilização, ganho de amplitude de movimento, trabalho de propriocepção, equilíbrio e conscientização corporal, fortalecimento e reequilíbrio muscular, trabalho de educação postural e/ou adequação ao movimento para atividades de vida diária ou gesto esportivo específico da modalidade praticada.